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Tratamento paliativo e de suporte para Mielopatia Degenerativa em Cães

Fisioanimal

Tratamento paliativo e de suporte para Mielopatia Degenerativa em Cães.

A Miolopatia degenerativa é uma doença debilitante, porém com tratamento e suporte é possível prolongar a qualidade de vida. Confiram o texto abaixo, escrito com a participação e orientação da Profa. Maira Formenton, diretora clínica Fisioanimal.

 

Colaboração e Autorai: Dra. Renata Ferreira de Guzzi.

A Mielopatia Degenerativa (MD) canina é uma enfermidade de incidência desconhecida e difícil de ser diagnosticada in vivo. Não existe atualmente um único tratamento realmente efetivo para essa enfermidade, porém o uso combinado da administração de suplementos alimentares, vitamínicos, associados a sessões de fisioterapia e acupuntura, bem como terapia celular com células tronco, além do uso do carro ortopédico pode prolongar a expectativa de vida do paciente com o máximo possível de qualidade.

O tratamento da MD é conservativo e tem por finalidade manter a qualidade de vida do paciente. Ele é composto de quatro aspectos básicos: 1) exercícios; 2) tratamento suporte; 3) tratamento medicamentoso; e 4) minimização do estresse oxidativo (SURANITI, et. al, 2011) e os autores incluem 5) qualidade de vida, o que compreende analgesia, controle de escaras, e manejo básico das funções geniturinárias.

1) Exercícios:  O objetivo da realização de exercícios é maximizar o tônus muscular e garantir uma melhora circulatória mediante atividades de intensidade, que devem ser realizadas em dias alternados, durante 30 minutos. O paciente deve repousar nos dias sem atividade física para garantir que musculatura e tendões descansem do esforço físico e, assim, haja um aumento do ganho e da força muscular; não significa dizer que nos dias sem exercícios o animal deva ficar confinado. Os exercícios, por si só, ajudarão a diminuir o avanço da MD e eles também podem ser associados a terapia física e a eletroestimulação muscular (SURANITI, et. al, 2011).

Kathmann, et al. (2006) sugerem que deve ser estimado um protocolo adequado de fisioterapia que inclua exercícios de marcha, massagem, mobilização articular e hidroterapia. Como exercícios ativos, devem ser realizadas caminhadas curtas de cinco a vinte minutos (de acordo com o quadro neurológico do paciente) cinco vezes por dia. Cabe destacar que é preciso que se esteja sempre atento ao posicionamento correto do membro do animal. Recomendam-se massagens diárias nos membros pélvicos e na musculatura paravertebral, movimentação articular passiva e suave em cada articulação do membro pélvico, com dez repetições para cada uma delas separadamente (quadril, joelho, articulação tíbio-társica e dígitos), três vezes por dia, e hidroterapia (natação ou hidroesteira) , no mínimo uma vez por semana, de cinco a vinte minutos, respeitando-se sempre a condição do animal (Figura 1).Quando necessário, deve-se proteger as patas com ligaduras ou meias. Os autores sugerem uso de bandagens funcionais para auxiliar o posicionamento dos membros e a deambulação do animal (figura 2).

2) Tratamento suporte:  Com a finalidade de reduzir a evolução da doença, é possível utilizar, como tratamento suporte, a vitamina E, reduzindo, assim, os danos teciduais provenientes dos radicais livres.  A administração de 52 UI/dia de vitamina E pode reduzir ou eliminar câimbras musculares. Altas doses devem ser evitadas para não provocar  inibição da coagulação (NISHIOKA & ARIAS, 2005).

A vitamina C ou ácido ascórbico estimula a atividade fagocítica, a produção e a função das células T. Nos casos de MD, altas doses dessa vitamina são capazes de reduzir a progressão da doença e diminuir o avanço dos sinais clínicos, mas também podem provocar diarreia. Recomenda-se iniciar o tratamento com doses mais baixas, chegando a 250-500 mg VO a cada 8-24 horas (CHRISMAN et al., 2005; NISHIOKA & ARIAS, 2005).

3) Como tratamento medicamentoso, o ácido aminocapróico é utilizado para prevenir o avanço da enfermidade. Pode ocasionalmente acarretar irritação gastrointestinal, especialmente os pacientes com problemas gastrointestinais preexistentes. Embora sem evidencias cientificas o uso empírico do ácido aminocapróico é defendido pelo Dr. Roger Clemmons da Florida University. Outra possível medicação a ser incluinda ao tratamento é a N- Acetilcisteína, na dose de 70 mg/kg, em 3 doses diárias, durante 2 semanas, e, depois, em dias alternados, mantendo-se as 3 doses diárias. A N- Acetilcisteína é administrada em uma concentração de 5% em caldo de galinha ou em outro produto que garanta a palatabilidade e diminua as possibilidades de problemas gástricos. Essa droga tem se mostrado efetiva em alguns casos em que apenas o ácido aminocapróico não induz resposta satisfatória. Nessas doses recomendadas, não foram verificados efeitos colaterais, porém doses mais altas podem provocar vômitos e aumentar o tempo de coagulação (SURANITI, et. al, 2011).

4) Controle estresse oxidativo: o estresse e a progressão da MD desempenham um papel importante no avanço da doença. Em alguns animais, o carro ortopédico pode minimizar situações de estresse (SURANITI, et. al, 2011).

As possibilidades de êxito do tratamento aumentam quanto mais precoce seu início e, se associadas a sessões de acupuntura, a resposta terapêutica deve ser evidente nos primeiros 7 a 10 dias de tratamento (SURANITI, et. al, 2011).

5) Qualidade de vida: embora Salinas e Martínez (1993) relatem que não existe tratamento satisfatório para MD e que há indicação de eutanásia, Fossum (2005), porém, afirma que o tratamento deve ser clínico e paliativo, com o uso de anti-inflamatórios não esteroidais, suplementação dietética por meio de vitaminas e fisioterapia, uma vez que não há tratamento cirúrgico para essa patologia. Observa, também, que apesar de todas essas opções, o prognóstico é desfavorável, pois não é possível interromper o avanço da desmielinização e muitos animais acabam destinados à eutanásia.

Levine, et al. (2008) afirmam que a fisioterapia é considerada de grande relevância na manutenção e na recuperação das funções nos pacientes com disfunções neurológicas e efeitos secundários debilitantes e graves. Como a MD é considerada uma lesão crônica da medula espinhal e, nesses casos, a recidiva dos sinais neurológicos é relativamente comum e a cura rara, a fisioterapia tem-se mostrado de suma importância para esses pacientes. É preferível iniciar o tratamento enquanto o animal ainda caminha (LEVINE, et. al, 2008).

Kathmann, et al. (2006) verificaram, em seu trabalho, que os animais que realizaram tratamento fisioterápico intensivo, ou seja, exercícios de três a cinco vezes por dia, massagem e mobilização articular três vezes por dia e hidroterapia diariamente, tiveram uma sobrevida de 255 dias em relação aos pacientes que receberam tratamento fisioterápico moderado, com exercícios no máximo três vezes por dia, hidroterapia ou massagem uma vez por semana (sobrevida de 130 dias). Já o grupo que não recebeu tratamento fisioterápico teve como resultado 55 dias de sobrevida. Esses dados confrontam os obtidos por Suraniti et al. (2011), que recomendam o tratamento fisioterápico de 30 minutos e em dias alternados.

O tratamento fisioterápico visa a redução da dor muscular, melhora da amplitude de movimento articular, reversão da atrofia muscular e reestabelecimento da função neuromuscular e pode ser realizado por meio de exercícios passivos e estímulo de reflexos, da amplitude passiva articular, alongamentos e estimulação dos reflexos flexor e extensor (patelar) (LEVINE, et. al, 2008).

Exercícios ativos para o ganho de massa muscular, recuperação do equilíbrio neuromuscular e da coordenação motora também podem ser realizados. Por exemplo sentar e levantar para fortalecimento da musculatura extensora do joelho e da articulação coxofemoral; caminhadas assistidas e de resistência; natação (que promove a redução das forças do peso), exercícios de equilíbrio e de coordenação com pranchas, bola, trilho de cavaletes (LEVINE, et. al, 2008).

Além disso, há outras opções de modalidades terapêuticas como ultrassom terapêutico para alívio da dor enquanto ativa o fluxo sanguíneo e o processo cicatricial, redução dos espasmos musculares; eletroestimulação neuromuscular (NMES) para melhora da perfusão tecidual, redução da dor, manutenção da massa muscular e reversão a atrofia muscular por desuso prolongado (LEVINE, et. al, 2008).

Embora não hajam evidencias específicas para esse tipo de afecção, o uso de terapia celular tem se mostrado interessante nos casos de lesões medulares na experiência dos autores.

Na experiência dos autores a associação de suplementação alimentar com exercícios e tratamentos como terapia celular tem se mostrado de grande valia em avaliação empírica de pacientes submetidos a este protocolo. Com o avanço no número de médicos veterinários especializados em reabilitação a manutenção da qualidade de vida associada aos animais com diagnóstico presumível de MD poderá ser mantida com maior sucesso embora o prognóstico continue a ser desfavorável para esse tipo de enfermidade neurodegenerativa.

 

Artigo publicado originalmente em:  Renata Ferreira de GUZZI1, Maira Rezende FORMENTON, Katherine Palmina COLOMBA, Mônica VERAS, Jean Fernandes Guilherme JOAQUIM, Denise Tabacchi FANTONI. MIELOPATIA DEGENERATIVA EM CÃES: UM DESAFIO NA MEDICINA VETERINÁRIA E NA REABILITAÇÃO ANIMAL. UNIMAR CIÊNCIAS 23 (1-2), 2014.

1- re.guzzi@hotmail.com1

Bibliografia:

SURANITI, A. P., et, al; Mielopatía Degenerativa canina: signos clínicos, diagnóstico y terapéutica. REDVET – Revista Electrônica de Veterinaria, volume 12, número 8, 2011.

Disponível em: http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n080811/081105.pdf

KATHMANN, I., CIZINAUSKAS, S., DOHERR, M.G., STEFEEN, F., JAGGY, A.; Daily controlled physiotherapy increases survival time in dogs with suspected degenerative myelopathy. Journal Veterinary Intern Medicine. v. 4, p. 927-32, Jul-Aug/2006.

NISHIOKA, C. M.; ARIAS, M. V. B. Uso de vitaminas no tratamento de doenças neurológicas de cães e gatos. Clínica Veterinária, São Paulo, v. 10, n. 55, p. 62-72, 2005.

SALINAS, E. M; MARTINEZ, N.L; Descripción de un caso compatible con mielopatía degenerativa en un perro Mastín Inglés – Relato de caso. Revista: vet. Méx, 24ª edição, volume 2, página: 159-162, 1993.

Disponível em: http://www.medigraphic.com/pdfs/vetmex/vm-1993/vm932n.pdf

CHRISMAN, C.; MARIANI, C.; PLATT, S; CLEMMONS, R. Neurologia para Clínico de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2005. p. 3-336.

FOSSUM, T. W.; Doenças não-cirúrgicas da espinha. In: ____. Cirurgia de Pequenos Animais. 2. Ed. SP; Roca, 2005, p. 1357-1358.

LEVINE, D., MILLIS, D. L., MARCELLIN-LITTLE, D. J., TAYLOR, R., Reabilitação e fisioterapia na prática de pequenos animais. São Paulo, Roca, 2008, p. 168-171.

 

 

 

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